Trauma financeiro quando o dinheiro vira cicatriz
- Márcia Fialho Fiuza Lopes

- 2 de nov.
- 3 min de leitura

Você já sentiu um aperto no peito só de pensar nas finanças? Ou já se pegou repetindo padrões com o dinheiro que não fazem sentido, mas que parecem te controlar? Se sim, saiba que você não está só e que talvez o nome disso seja trauma financeiro.
Quando o dinheiro vira ferida
O trauma financeiro é uma marca emocional deixada por experiências dolorosas relacionadas ao dinheiro. Pode vir de situações como falência, desemprego, brigas familiares por herança, abandono financeiro, abuso econômico em relacionamentos, perdas bruscas de padrão de vida ou até de uma infância onde dinheiro era sinônimo de medo, escassez ou controle excessivo.
Mas nem sempre o trauma nasce de grandes eventos. Às vezes, ele se constrói silenciosamente, no acúmulo de mensagens que ouvimos quando crianças dinheiro não cresce em árvore, gente rica não presta, melhor depender de homem do que passar necessidade ou no que testemunhamos nos adultos à nossa volta.
Segundo os psicólogos Brad e Ted Klontz, autores do livro A mente acima do dinheiro, essas experiências formam o que eles chamam de flashpoints financeiros: pontos de virada emocionais que moldam nossa relação com o dinheiro ao longo da vida.
O trauma financeiro mora no corpo e no bolso
O trauma não fica só no passado. Como explica o psiquiatra Bessel van der Kolk, “o trauma não é o que acontece com você, mas o que acontece dentro de você”. Ele deixa marcas no cérebro, no corpo e na forma como a gente lida com o presente.
Em relação ao dinheiro, isso pode se manifestar de várias formas:
Gastos impulsivos como forma de aliviar ansiedade;
Incapacidade de poupar, mesmo ganhando bem;
Medo paralisante de investir ou tomar decisões financeiras;
Passividade em discussões financeiras no relacionamento;
Vergonha de falar sobre dinheiro ou pedir ajuda;
Tendência a repetir padrões familiares disfuncionais.
Um estudo de 2019 da Universidade do Sul da Califórnia mostrou que 23% dos adultos e 36% dos millennials apresentam sintomas de estresse financeiro compatíveis com transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). Isso inclui insônia, pensamentos intrusivos sobre dívidas, hipervigilância, irritabilidade e evitação de tudo que remete a finanças.
Histórias que moldam escolhas
Imagine uma mulher que cresceu ouvindo que o pai abandonou a família por causa de dinheiro. Na vida adulta, ela pode evitar qualquer conversa sobre finanças, mesmo que isso a prejudique. Ou um homem que viu a mãe ansiosa toda vez que o aluguel atrasava, hoje ele guarda cada centavo, mas vive em constante medo de a casa cair.
Esses comportamentos não são loucura nem falta de controle. São tentativas de proteger uma parte ferida muitas vezes, uma criança interior que aprendeu a sobreviver no caos.
Reconhecer é o primeiro passo

Trabalhar o trauma financeiro envolve mais do que aprender a montar uma planilha ou cortar gastos. Envolve reconhecer sua história, entender como ela se manifesta hoje, e construir um novo significado para o dinheiro um significado que te sirva, não que te aprisione.
A terapia financeira, e o uso de ferramentas como o genograma financeiro (que mapeia padrões familiares com o dinheiro) são caminhos potentes para esse tratamento. Também é possível trabalhar com estratégias para ressignificar crenças, desenvolver habilidades emocionais e cultivar segurança interna.
Dinheiro é sobre mais do que dinheiro
No fundo, o dinheiro é só um símbolo. O que ele ativa em nós medo, poder, segurança, controle, liberdade é que revela as camadas mais profundas da nossa psique.
Se você sente que algo não se encaixa na sua vida financeira, talvez valha a pena olhar com carinho para essa ferida. Não para culpá-la, mas para acolhê-la. Porque toda ferida reconhecida é um convite à cura.
Você merece uma relação com o dinheiro que seja leve, consciente e alinhada com quem você é hoje. E mesmo que o passado tenha deixado marcas, o futuro pode ser escrito com outras palavras e com mais cuidado com você.
Quer mudar sua relação com o dinheiro, entre em contato.



