Por que tomamos más decisões com o dinheiro mesmo quando sabemos o que é certo?
- Márcia Fialho Fiuza Lopes

- 2 de nov.
- 3 min de leitura

Imagine que sua mente é como um celular com dois aplicativos principais abertos o tempo todo. Um é rápido, automático, intuitivo como aquele app de mensagens que responde quase sozinho. O outro é mais lento, analítico, cuidadoso tipo um aplicativo de planilhas que exige mais atenção. Esses aplicativos são o que a psicologia chama de Sistema 1 e Sistema 2, conceitos descritos por Daniel Kahneman, prêmio Nobel de Economia e um dos pais da Economia Comportamental.
Quando estamos lidando com decisões financeiras, como fazer uma compra, poupar ou investir, nossa mente prefere usar o caminho mais rápido o Sistema 1 porque ele consome menos energia. Só que, ao fazer isso, usamos heurísticas, que são como atalhos mentais. São regras de bolso, práticas para lidar com o excesso de informação. E é aí que moram os vieses: erros previsíveis que surgem justamente quando esses atalhos falham.
Heurísticas e Vieses: o Waze do cérebro e seus desvios

Vamos usar uma metáfora: pense na heurística como o Waze do seu cérebro. Ele traça rotas rápidas para chegar ao destino, mas nem sempre escolhe o melhor caminho. Às vezes, por falta de atualização, ele te manda para um beco sem saída. O viés é exatamente esse desvio de rota.
Um exemplo clássico é o Viés da Ancoragem. Já reparou como os preços nos sites de vendas vêm sempre acompanhados de um antes R$ 599, agora só R$ 299? Isso ancora sua mente no valor maior, e mesmo que R$ 299 não seja barato, ele parece um baita negócio. Seu cérebro compara com a âncora inicial, e não com o valor real do produto ou sua utilidade para você.
Outro viés comum é o Viés do Status Quo a tendência de preferir que tudo fique como está. Quantas vezes você já deixou dinheiro parado na conta corrente só por preguiça de mexer? Isso acontece porque mudar exige esforço, energia mental, e nosso cérebro quer economizar tudo isso.
Quando o afeto vira consultor financeiro
A Heurística do Afeto é outro atalho curioso. Ela nos faz tomar decisões com base em sentimentos, e não em fatos. Sabe aquela marca que te acompanha desde a infância? Ou aquele carro que você sempre sonhou em ter? Pois é. Esse afeto pode nos levar a ignorar informações importantes, como o custo total ou a real necessidade de aquisição. O afeto vira um consultor interno, mas sem diploma.
O perigo do excesso de confiança
Agora pense no Viés da Autoconfiança Excessiva. É quando a gente acredita que sabe mais do que realmente sabe. Isso é muito comum no mundo dos investimentos. A pessoa acerta uma vez e passa a confiar cegamente no próprio instinto. Ignora riscos, dados e conselhos. O resultado? Erros caros. E, quando algo dá errado, é mais fácil culpar o mercado ou o governo do que admitir a própria falha.
Efeito Avestruz: a gente finge que não viu
Outro viés famoso é o Efeito Avestruz: aquela vontade de enfiar a cabeça na areia quando as finanças estão difíceis. Evitar abrir a fatura do cartão ou olhar o saldo da conta bancária são formas clássicas desse comportamento. É uma forma inconsciente de proteção emocional, mas que, na prática, só adia o problema.
Mas dá para escapar desses desvios?
Sim. O primeiro passo é se conhecer. Saber que você está sujeito a esses atalhos mentais é o começo de um processo de mudança. Algumas dicas práticas:
Dê um tempo antes de decidir. Adiar uma compra por 24h pode reduzir drasticamente o impulso.
Faça perguntas a si mesmo: Por que estou comprando isso?, Preciso mesmo?, Estou reagindo a uma emoção?
Peça uma segunda opinião: conversar com alguém de confiança pode trazer perspectivas que seu viés bloqueou.
Anote suas decisões financeiras e revise depois. Isso ajuda a perceber padrões de comportamento.
Conclusão: reconhecer não é fraqueza, é poder
Ninguém está imune aos vieses nem mesmo quem estuda o assunto. A diferença é que, ao nomear o que sentimos e como decidimos, abrimos espaço para escolhas mais conscientes. A economia comportamental não nos ensina a sermos perfeitos com o dinheiro. Ela nos convida a sermos mais humanos, atentos às nossas emoções, hábitos e limites.
Afinal, quando conhecemos nossos atalhos, podemos escolher caminhos melhores.
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