Endividamento: quando as dívidas viram prisão e como escapar desse ciclo invisível
- Márcia Fialho Fiuza Lopes

- 2 de nov.
- 3 min de leitura

Você sente que o dinheiro entra e sai como água? Que a cada mês é um desafio novo, uma conta nova, um malabarismo emocional e financeiro para manter tudo em pé? Se você vive endividado ou tem medo de cair nessa armadilha saiba que isso é mais comum (e complexo) do que parece. E que existe um caminho possível de reconciliação com sua vida financeira.
Neste artigo, vamos conversar sobre as causas profundas do endividamento, o impacto psicológico que ele gera e, principalmente, as formas de romper esse ciclo. Tudo com base nas contribuições da psicologia financeira e da nova legislação brasileira sobre superendividamento.
O que é endividamento (e por que não é só uma questão de matemática)
Endividar-se, em si, não é necessariamente um problema. Financiamentos, parcelamentos e empréstimos fazem parte da dinâmica financeira de muitas famílias. O problema começa quando a dívida compromete o que chamamos de mínimo existencial ou seja, quando já não dá para pagar as contas básicas, como alimentação, moradia e saúde.
Segundo a Lei 14.181/2021, que atualizou o Código de Defesa do Consumidor, o superendividamento é justamente essa situação em que o consumidor não consegue quitar suas dívidas de consumo sem comprometer sua dignidade e subsistência.
Endividamento não nasce do nada: ele tem raízes emocionais

Vou compartilhar com você um caso que atendi no consultório com autorização da cliente para uso anônimo, claro.
Lorena, 42 anos, fisioterapeuta, chegou até mim cansada de viver endividada. Cartão de crédito estourado, cheque especial no limite, dois empréstimos feitos para cobrir buracos anteriores. E o mais difícil: o sentimento de vergonha e fracasso por não conseguir controlar algo que parecia tão simples.
Mas não era simples.
Desde pequena, Lorena ouvia do pai: “Você trabalha, pode comprar o que quiser. O dinheiro é seu, aproveite.” Ela cresceu vendo o estresse financeiro dentro de casa, mas os assuntos sobre dinheiro eram tabu. Na vida adulta, repetiu o padrão: trabalhava muito, gastava como forma de recompensa emocional. Quando o desconforto surgia, vinha o alívio imediato de uma compra, um mimo, um agrado. E, aos poucos, o buraco foi crescendo.
Esse caso mostra o que tantas pessoas vivem em silêncio: o endividamento como uma forma de lidar com carências, angústias, crenças e heranças emocionais familiares. Não se trata apenas de saber fazer contas, mas de aprender a reconhecer os vazios que estamos tentando preencher com consumo.
Crenças que te fazem gastar (mesmo quando você quer economizar)
Algumas ideias inconscientes que alimentam o ciclo de dívidas:
Pra que esperar se eu posso ter agora?
Eu mereço, trabalhei duro por isso.
Nunca se sabe o amanhã, é melhor aproveitar.
Eu dou conta de pagar depois.
Essas frases soam familiares? Então você pode estar preso em um padrão de autoengano financeiro onde o alívio imediato vence o planejamento de longo prazo.
O peso psicológico das dívidas
O endividamento crônico provoca mais do que estresse financeiro. Ele pode gerar:
Ansiedade constante: medo de ligações de cobrança, e-mails ignorados, vergonha de abrir o extrato.
Baixa autoestima: sensação de fracasso, incompetência, culpa.
Isolamento social: por vergonha, muitas pessoas se afastam de amigos e familiares.
Conflitos de relacionamento: esconder dívidas é uma das principais causas de brigas e separações conjugais.
Como sair do ciclo de endividamento: passos possíveis
Reconheça seu padrão
O primeiro passo é perceber que o problema não está só nos números, mas nas histórias, crenças e emoções por trás das decisões financeiras.
Busque apoio psicológico e financeiro
A psicoterapia financeira ajuda a identificar os gatilhos emocionais do consumo e a construir um novo relacionamento com o dinheiro.
Organize sua realidade com clareza e compaixão
Use ferramentas como diário financeiro, orçamento consciente e o espelho financeiro para mapear gastos e tomar decisões com mais presença.
Evite o autojulgamento
Você não está sozinho. O endividamento é um fenômeno coletivo, agravado por um sistema que incentiva o consumo irresponsável.
Aproveite os recursos legais disponíveis
A nova legislação brasileira garante o direito de renegociar todas as dívidas em bloco com os credores por meio de audiência de conciliação e plano de pagamento que respeite sua realidade e preserve sua dignidade.
Conclusão
Estar endividado não é sinal de fraqueza, desorganização ou irresponsabilidade. É, muitas vezes, um pedido de ajuda disfarçado uma tentativa de encontrar equilíbrio emocional em meio ao caos. E esse pedido pode ser acolhido, ouvido e tratado com cuidado.
Se você se identificou com esse texto, saiba que você não precisa enfrentar isso sozinha. A psicoterapia financeira é um espaço seguro para compreender sua relação com o dinheiro, reconstruir sua autonomia e resgatar a leveza que talvez tenha se perdido no caminho.
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